domingo, 17 de outubro de 2010

Psicologia Jurídica

A DINÂMICA FAMILIAR E O FENÔMENO DA TRANSGERACIONALIDADE

“O hoje é o ontem com outro cenário, outra roupagem, outros personagens, só que a essência é a mesma” Groisman (p.33, 2000).
A questão da força familiar está muito presente nas relações e processos decisórios dos indivíduos em seu ambiente social, sem dúvida. A partir deste fato, analisaremos os fatores pelos quais a continuidade dos legados familiares influencia a vida de cada pessoa que a possua.  Esta perpetuação dos ideais de geração para geração tem por denominação a transmissão transgeracional e, em específico, este fenômeno o texto de Denise Falcke e Adriana Wagner elucida, de forma clara, como explicação ao efeito ocasionado às idiossincrasias e relações do funcionamento familiar da última geração.
Assim, passa-se pelo pressuposto de que a transgeracionalidade baseia-se na situação da qual o indivíduo insere-se em uma ideologia preexistente, da qual é cercado.  Desta forma, isto se cimenta, pois trata do início da construção da identidade futura e tomada do lugar que a pessoa irá assumir no meio familiar.  Além de a influência destes transmissores não depender da interação familiar, destaca-se também, desde a infância, as experiências vividas mais concretamente de fronte às figuras significativas da família. Esta experiência relaciona-se a momentos normalmente caracterizados por crises de acúmulos de estresse no núcleo familiar, que podem ou estagnar ou levar a família a um processo evolutivo. Das diversas crises que eventualmente uma família está suscetível, as definidos como previsíveis e imprevisíveis. Aqueles se definem como tal, pois elucida um período já pensado, como o casamento e todas as crenças e regras que o envolvem. Já as crises imprevisíveis tratam-se de um momento não esperado, como crises econômicas que geralmente podem vir a ocorrer e gerar um desequilíbrio. Estes dois conceitos são então considerados como, segundo Carter e McGoldrick (1995), estressores horizontais, a ansiedade e emoção advém da maneira como a família suporta e consegue lidar com a situação posta e devidas mudança que podem ocorrer no ciclo evolutivo vital.  Já os estressores verticais, ou fatores invisíveis que permeiam o ambiente familiar, destacam-se, por sua vez, como a função e relacionamento transmitidos transgeracionalmente, como crenças, tabus, mitos, padrões, valores, rituais, legados, lealdades familiares.  Sobre a fundamental importância destes fatores que suplementam os círculos familiares, elenca-se então um esquema elucidativo sobre tais.

Lealdades
            Como característica de grupo, a lealdade aparece como conector e coesão dos entes familiares ao seu círculo. Tem como objetivo a sobrevivência da família sobre a carreira história que aquela representa do tipo de justiça que pratica.

Valores
            Dentre as diversas similaridades que os valores comungam com as crenças, destacamos como principais características os aspectos de vida – coletiva ou individual – transmitidos, implícita ou explicitamente, entre os componentes do sistema familiar, e que, de certa forma, preocupam-se em transmiti-los ao longo das gerações.

Crenças
            De certa forma, denomina-se como crença aquelas premissas e interpretações as quais a família toma como verdade ou o que deve ser certo, favorecendo o poder daqueles que as assumem tanto quanto aqueles que as contestam.

Mitos
            Sobre seu aspecto mais amplo, o mito familiar emerge no conceito do objetivo de definir atitudes familiares que se originam de pensamentos defensivos, de forma a garantir a coesão interna e proteção externa. Trata-se de uma forma de obscurecer fatos penosos e complexos, cuja aceitação por parte da família tornar-se-ia dolorosa e garantir uma forma de base e apoio operante, ou, de certa forma, para preencher lacunas que, de geração para geração, foram-se perdendo dados e, consequentemente, assim organizar o grupo de acordo com crenças em supostas qualidades que este possui.

Segredos
            Indubitavelmente, os segredos estão eventualmente presentes no meio familiar, e emanam, principalmente, do esconderijo que um ou mais pessoas do meio executaram alguma ação que está de encontro a cultura do grupo. Assim, o saber da existência deste segredo por parte dos demais pode causar a ruptura entre a posse comum dos fatos e por em risco a confiança e a união. Expõem-se três formas de segredos mais comuns evidenciados, a saber, os individuais (tratam-se daqueles em que uma pessoa guarda para si um fato que cometeu e fere os valores familiares, como o adultério); os internos (ocorre quando duas ou mais pessoas estão sob a cautela de tal segredo, como um segredo sobre a paternidade, na qual os pais retêm uma informação da qual os filhos não sabem); e compartilhados (este trata dos segredos dos quais a família inteira está ciente, mas procura esconder do mundo externo ao grupo, como o alcoolismo abusivo de um dos integrantes da família). Portanto, os segredos são formas de retenção de informações que podem levar a ansiedade daquele que a resguarda e rompimento de alianças pelo engano.

Ritos
            De forma sintetizada, os ritos fazem parte daqueles comportamentos simbólicos codificados pelo grupo familiar, muitas vezes trazidos pela transgeracionalidade, baseados em crenças, que procuram a funcionalidade de aprendizagem da cultura interna e evolução nas tarefas e posições. Dividem-se em três grupos: celebrações (batismo, funeral), tradições (férias de verão, aniversário) e rotinas pautadas (hora do jantar).

Legados
            Como o próprio nome elucida, o legado se explica pela transmissão da ideologia familiar ao longo das gerações. Pode ser comparado ao processo de testamento, mas não só como a transferência de objetos materiais, como também e, principalmente, de valores destinados a serem respeitados pelos atuais grupos da família transgeracional.

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